A onda
Era uma onda que crescera para lá do meio do mar
e mais se alçava em corpulência das ondas que tragava
pelo caminho. Era uma onda ávida.
Com ela rolavam búzios alucinados, estilhaços de
conchas, madeiros, plâncton, algas, o último alento dos
afogados... Era uma onda violenta.
A exaltação que trazia dos confins do horizonte nem
lhe dera para se interrogar sobre qual o desígnio do seu
destino. Era uma onda embriagada de vida.
Desfraldada em cachão, cavalgava para terra. A rojar-se
sobre os primeiros bancos de areia, esboçou enfim a
pergunta:
- Porquê?
Mas já não teve tempo de responder.
António Torrado
in Cinco sentidos e outros 1997
2 comentários:
Adorei o teu blog, apenas digo numa palavra tudo o que ele merece, está soberbo, continua parabéns
adorei... e este comentário destina-se ao blog em geral... as ondas vão e vêm, podem ser efémeras... (ou não) mas deixam sempre marcas... e qts de nos nao pousamos perto do mar para ver a dança das ondas... e na cabeça a dança das palavras...
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